Introdução
Os estudos da teoria do apego falam sobre padrões de apego formados ainda durante a infância com nossos cuidadores primários, que acabam afetando nosso comportamento e relacionamentos, especialmente quanto a relações afetivas, pelo resto de nossas vidas. O primeiro livro que resolvi ler sobre o assunto foi How we love de Milan e Kay Yerkovich. Simplesmente porque gostei da abordagem deles da teoria de John Bowlby.
No livro dos Yerkovich encontramos, e aqui eu vou traduzir livremente os termos do inglês, os estilos de amar, como chamam: secure (seguro), avoider (evitador), pleaser (agradador), vacillator (vacilador), e o chaotic (caótico), que, por sua vez, se divide em dois perfis, o controller (controlador) e o victim (vítima). Você pode usar o teste no site do casal para descobrir qual o seu estilo predominante. Caso não consiga fazer em inglês, basta usar o navegador Chrome para traduzir a página. Tendo em vista que, em geral, podemos apresentar um pouco de cada estilo, e oscilar entre estilos, dependendo de com quem estamos nos relacionando, de fases na nossa vida ou no relacionamento.
Na base da teoria está o nosso relacionamento com nossos cuidadores (mãe, pai, avó, ou quem quer que nos tenha cuidado durante a infância). A resposta dessas pessoas às nossas demandas por atenção, e demais necessidades, além de interações e acontecimentos que podem gerar traumas na infância, são importantes e impactam nossa personalidade e a forma com que nos relacionamos com as outras pessoas.
Bowlby foi inspirado pelos estudos do etologista austríaco Konrad Lorenz, com filhotes de aves. Onde ele observou que os gansos e patos recém nascidos, seguiriam o que quer que se movesse, independente de ser a mamãe ganso ou pata, um pesquisador humano, ou até um objeto. Sendo o próprio "mãe" de várias aves em seus experimentos. É Lorenz que cunha o termo imprinting (cunhagem, estampagem) para descrever como essa relação primária era importante para o desenvolvimento e as relações dessas aves, inclusive na fase adulta. Como também em observações de Freud sobre o estresse causado nos bebês, quando estes são separados de suas mães, ao que Freud chamou de ansiedade de separação.
Ele observou que se o cuidador é acessível e confiável, a criança cresce segura e confiante. E isso gera um modelo saudável para suas futuras relações de amizade e amor. Dependendo da experiência dessa criança com o cuidador primário, ela também pode desenvolver problemas de relacionamento. Então, além do apego seguro, que seria o ideal, ele observou ainda três outros: ansioso/ambivalente (vacilador), ansioso/esquivo (evitador) e ansioso/desorganizado (caótico). Kay e Milan ainda acrescentam o agradador, que segundo eles, seria um estilo de amor medroso, receoso. Mas a base do livro é a teoria de Bowlby e suas cunhagens de apego.
No livro de Milan e Kay, infelizmente sem tradução para o português, eles descrevem as características de cada estilo, o que leva a formação desse estilo, as combinações em casais para cada estilo, e ainda apresentam casos de casais atendidos por eles em seus consultórios ou nos diversos workshops que ofertam para casais, para que a gente tenha oportunidade de se identificar com suas histórias. Além disso há um livro de exercícios para se fazer, de preferência com o seu companheiro(a) ou com um grupo. Mas você também pode voar solo e trabalhar para desvendar o que sua infância tem a te contar sobre sua personalidade e seus relacionamentos hoje. Além de ajudar a chegar o mais próximo de um estilo de apego seguro. Ou seja, nem tudo está perdido. Você pode se recuperar dessa cunhagem negativa. Claro que tudo ao custo do auto-conhecimento, reconhecimento de suas falhas e padrões danosos, e desejo genuíno de mudança. Que não vem fácil, e requer dedicação e perseverança. De preferência, se possível, com a ajuda de um terapeuta.
Eu achei de extrema importância aprender sobre mim e meu companheiro. Perceber as armadilhas que o nosso padrão de amor nos faz cair, e como isso nos prejudica. Foi como se antes eu estivesse sendo guiada, enquanto vendada, pelos meus sentimentos de insatisfação e medo, por um caminho não saudável. Magoando e sendo magoada sem entender o porquê. Eu estou no primeiro passo dessa jornada, mas entendi que vale a pena. E aprendi no livro, que as vezes o que você considera incorrigível no seu relacionamento, é algo que pode ser recuperado, com uma boa comunicação de sentimentos. Parecido com o que vemos na prática de comunicação não violenta (mais detalhes em futuras publicações).
Algo observado também é que tendemos a nos atrair sempre pelo mesmo perfil de pessoa, e em geral, com o mesmo nível de traumas que o nosso. Então, se você anda sofrendo no seu relacionamento, e claro, não é um relacionamento abusivo (falarei mais sobre relacionamentos abusivos em publicações futuras porque vejo necessidade), em que você teme pela sua integridade física ou mental. Talvez valha mais a pena trabalhar em recuperá-lo, do que terminar e ter um repeteco da mesma situação com outra pessoa depois de um tempo. Se você está solteiro, ótimo, vai entender porque se atrai por determinadas pessoas e vai aprender a viver uma relação mais saudável, se assim desejar, no futuro.
Milan foi pastor por treze anos, e trabalhou com aconselhamento pastoral. Então, o livro tem uma pegada forte cristã, com citações da Bíblia e sugestões de orações. Mas isso não prejudica a leitura para os não cristãos, como eu, que exceto por um detalhe ou outro, não relacionado a religião, estou amando o livro.
Pretendo esboçar as características de cada perfil na próxima publicação aqui neste blog. Além de falar sobre os exercícios do livro, e o que eles chamam de "palavras da alma" que são palavras para melhor expressar os sentimentos, já que tantas pessoas sentem dificuldade nisso.
Já vou deixando claro nessa primeira publicação, que apesar de ser uma entusiasta da psicologia, não sou de forma alguma especialista nisso. Não sou psicóloga, psicanalista ou qualquer coisa nesse sentido. Só li o livro, acho a teoria do apego interessante e observável, e reconheço o potencial que tem em ajudar as pessoas a navegar suas relações. Se houvesse tradução para o português, estaria recomendando este livro. Para os leitores que conseguem ler em inglês, eu o recomendo fortemente.
Achei excepcional e é indescritível a forma singela e chamativo no aspecto de suas observações em relação ao livro, você é nós leitores... Sendo que o termo "religião" representa repressão entre os próprios... Mas o importante é o foco, portanto seguirei o conteúdo...
ResponderExcluirMuito bom!
Ronaldo
Oi amigo, agradeço muito que tenha aparecido por aqui. Espero que continue gostando do conteúdo. Com isso eu espero ajudar, nem que seja uma pessoa só.
ExcluirE sim, é da perspectiva de uma total leiga no assunto. Estamos todos aprendendo. Mas não quer dizer que não podemos compartilhar o que já sabemos com os demais.
Seus comentários realmente nos despertam o interesse pela leitura e, evidentemente, seu fundamento teórico por trás dela. Os "incrementos" religiosos me atraem ainda mais, visto que foi através da religião que cresci no autoconhecimento (Que evidentemente é um processo)e no amor conjugal!
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